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Curiosidades
Histórias do Carnaval Parte I

Ensaios de carnaval por Leonardo Dantas Silva


AMAR O TRANSITÓRIO

Cada carnaval é uma história: a mesma história. Com fantasias e personagens diferentes, milhões de pessoas exercitam a evasão. Divertem-se. Querem entrar no acaso e amar o transitório, como verso de Carlos Pena Filho. Não podem ficar sossegadas no próprio quarto, como no aforismo de Pascal. Mais a ver com poesia do que com filosofia, o carnaval, como o futebol, como todos os "mergulhos" na ação, tem quem reflita sobre ele. Tarefa de cientistas sociais, não de foliões. Mas às vezes acontece o raro de um e outro serem a mesma pessoa e se chamarem Leonardo Dantas Silva. Desde muito cedo ele vive e lê o carnaval, fazendo história e fazendo a história dessa festa quase sinônimo de povo brasileiro.
Das três vezes que o carnaval foi assunto do Suplemento Cultural, em sua nova fase, Leonardo Dantas Silva participou das três. Nesta agora, publicamos uma síntese de sua já pronta história do carnaval do Recife. O que é o frevo, qual sua origem, quem são os seus principais intérpretes. Como se originou o maracatu. Quais foram os primeiros blocos. De que modo se brincava o carnaval nos primeiros anos do Brasil. Tudo isso é respondido na série de ensaios escritos por Dantas Silva, e ainda mais: quando se começou e se deixou de usar oficialmente lança-perfume? O que são confetes, serpentinas e em que período entraram na paisagem do carnaval?

Além da história do carnaval nesses ensaios que cobrem o período que vai do século 17 a praticamente os dias atuais, temos nesta edição imagens raras, a maioria pertence ao acervo do departamento de iconografia do Cehibra, da Fundação Joaquim Nabuco, a quem agradecemos a cortesia.
Completando o número, um toque de contemporaneidade: a história do Galo da Madrugada, as transformações do carnaval na Zona da Mata e, por último uma homenagem ao compositor e cantor Chico Science, que se foi muito cedo, antes do carnaval.

ENTERROU A SUA MULHER E FOI PARA O CARNAVAL

No sábado de Zé Pereira e do Galo da Madrugada o que se esperava de mais um folião frustrado? Um torçal barato nas cores encarnado-preto-e-branco da cobrinha coral arrodeando a testa com a cabeça e um brinco de falsa esmeralda de pressão agarrado no lóbulo da orelha esquerda. Nos carnavais era assim. Um bermudão e camiseta coloridos que não iam aparecer no intenso colorido da festa do "demo" como chamou uma freira quando ele subia o ônibus na periferia do bairro do Zumbi do Pacheco. "Esse vai pra festa profana do `demo`, - apontou a freira. Eleodoro apontou o dedo safado (em troca) para a religiosa e mandou ela "ir".

Capítulo dois
Quando desceu na Avenida Sul, uma multidão caminhava dentro da sua alegria fantasiada. Eleodoro embutido dentro dessa fantasia. Escondia o tédio com o desespero por trás de uma máscara patética de duende de carnavais passados. O calor "do inferno"- pensou ele - borbulhando e fervendo os corpos explodindo músculos e veias nas peles, mesmo assim pediu um conhaque na primeira barraca improvisada e "slap" com os dois dedos indicador com o maior de todos. "slap" também com a língua. Na praça recostou-se no gradil e suspirou iludindo o alívio: havia deixado a mulher enterrada "bem enterrada"? viva no quintal da casa. Lá no fundo. Só o cão Lanzudo assistiu a tudo. Não houve gritos porque Eleodoro empurrou a calcinha da mulher até a garganta. Os pés amarrados às mãos numa posição de causar inveja a contorcionistas. Aí então a cova rasa teve de ser funda.

Capítulo três
Quando o Galo urbano e de armação estourou nas Cinco Pontas da cidade com o trio elétrico respondendo dentro do estômago nem isso apagava dos olhos de Eleodoro o espanto nos olhos de Mônica dentro do buraco sem medida. O estrépito dos metais em tantos decibéis não apagava da memória de Eleodoro o crime brutal. Ardiam nos miolos aqueles olhos saltados de terror devido a seqüentes pás de barro cobrindo o espanto de Mônica.

Capítulo quatro
Quando voltou do Galo da Madrugada era tardezinha e o cão Lanzudo veio encontrar-lhe no portão pulando-lhe pela perna do bermudão até o quintal onde a cova estava revirada e vazia. Estarreceu-se Eleodoro. As patas dianteiras e o focinho de Lanzudo estavam grudadas no barro úmido. A cova funda dera água. Na cozinha a sua mulher tomava café sentada à mesa com a machadinha de carne numa das mãos. Sabia que a cova úmida ia caber-lhe bem: Eleodoro era contorcionista aposentado. Não era preciso amarrá-lo ou esquartejá-lo. Dobrar as juntas do grandalhão Eleodoro era fácil. Lanzudo assistiu a tudo amarrado com ele lá no buraco.


ORIGENS E TRADIÇÕES DO CARNAVAL

QUANDO REINAVA O ENTRUDO BRUTAL
O carnaval, da forma com é hoje conhecido, tem suas origens na mais remota antigüidade. Alguns chegam a remontar aos festejos romanos das saturnais, lupercais e bacanais, bem como ao culto da deusa Isis, ou aos gregos, no culto ao deus Dionisio, caracterizados pela alegria desabrida, pela supressão da repressão e da censura, pela liberalidade das atitudes críticas e eróticas. No mundo cristão medieval era o período das festas profanas, iniciado na festa dos Reis Magos (Epifania) e que se estendia até a quarta-feira de cinzas, quando tinha início a Quaresma e começava a prática do jejum e abstinência de carne até o domingo da Páscoa. A Igreja Católica foi sempre tolerante para com o carnaval, chegando o papa Paulo II (sec.XV) a promover a animação da Via Lata, fronteiriça ao seu palácio e que permanecia silenciosa e deserta ao longo do ano, realizando ali um carnaval romano com corridas de cavalos, desfiles de carros, batalhas de confetes, bailes mascarados e outras brincadeiras que se perpetuaram através dos séculos. Mais recentemente, tornaram-se famosos os carnavais de Nice, Paris, Veneza, Roma, Nápoles, Florença, Colônia e Munique com suas músicas barulhentas, desfiles de carros alegóricos, com as suas críticas e licenciosidades, bailes de máscaras e desfiles de mascarados pelas ruas.

E o carnaval em Portugal? Em Portugal, como na Espanha e em algumas cidades da França, bem como em outros recantos da Europa, o carnaval era tão somente o entrudo brutal. Como melhor explica Júlio Dantas, em artigo publicado na Gazeta de Notícias em 21 de fevereiro de 1909: "Nós, portugueses, nunca compreendemos que o entrudo pudesse ser uma festa de arte como na Itália da Renascença, nosso entrudo, o santo entrudo lisboeta, foi sempre fundamental e caracterizadamente porco. O século XVIII, então excedeu todos os outros. Foi o século típico do entrudo nacional.(...)...todos com a casaca de seda a escorrer ovos, a cara empastada de sangue e lama, cobertos das maiores imundícies e dos mais sórdidos desejos, corriam as ruas debaixo de saraivada dos pós de panelas, das laranjas de cheiro, da farinha, dos esguichos, dos ovos de gema, de toda água vai que jorrava das rótulas estreitas e dos postigos mouriscos"...
Ainda em Portugal, Antônio Morais Silva (Rio, 1755 - Recife, 1824), autor do primeiro Dicionário da Língua Portuguesa (1786), quando estudante na Universidade de Coimbra, foi denunciado ao Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), em 17 de maio de 1779, por ter comido, juntamente com outros colegas de sua "república", um presunto na terça-feira do entrudo. Repetindo o feito na quarta-feira de cinzas, em pleno período da Quaresma, época em que os católicos eram obrigados a absterem-se de carne de qualquer espécie. Para fugir do processo da Inquisição de Coimbra, o nosso primeiro dicionarista transfere-se para Pernambuco, onde veio a ser proprietário do engenho Muribeca (Cabo de Santo Agostinho) tendo falecido no Recife em 11 de abril de 1824 (Inquisição de Coimbra, Proc. n.º 8094 - ANTT).
No Brasil o que se viu, por mais de três séculos, foi a selvageria do entrudo português. Originário do latim, introitus, e já conhecido documentadamente na Península Ibérica desde o século XVIII, a festa acontecia nos três dias que precediam a Quarta-feira de Cinzas, na qual quase tudo era permitido, não somente no Brasil com em toda a América Espanhola, em que reinava o "entrudo porco e brutal".
Em Pernambuco o entrudo é conhecido desde os primeiros anos da colonização, quando Maria d`Almeida, em depoimento prestado quando da Primeira Visitação do Santo Ofício em Olinda, perante o visitador Heitor Furtado de Mendonça, em 9 de agosto de 1595, remontando a fatos observados "há cerca de quarenta anos" afirma que, no Engenho Camarajibe, o seu proprietário Diogo Fernandes, cristão-novo marido da também cristã-nova Branca Dias, "servia a sua gente num dia de entrudo, peixe e na Quarta-feira de cinzas, porco".
Ainda nas mesmas Denunciações de Pernambuco, em depoimento datado de 10 de novembro de 1593, Diogo Gonçalves, relembrando fatos observados em 1553, diz que no mesmo engenho Camarajibe, o supracitado Diogo Fernandes ofereceu aos seus trabalhadores como almoço "numa terça-feira de entrudo" algumas tainhas secas. No dia seguinte, uma quarta-feira de Cinzas, dia de abstinência de carne de uma grande porca, que havia abatido naquele dia, o que foi motivo de grande escândalo entre os presentes.
Diogo Fernandes e Pedro Álvares Madeira, ambos de origem judaica, receberam as terras onde seria edificado o engenho Camarajibe em 1542. 13 anos depois, em 1555, foram as suas plantações destruídas por ataque dos índios, ficando o primeiro "muito pobre com seis ou sete filhas e dois filhos, sem ter com que os possa manter dita perda", segundo carta de Jerônimo de Albuquerque ao Rei de Portugal (ANTT, Lisboa. Parte I, maço 96, doc.74).
Tais fatos vêm demonstrar que a presença das festas do entrudo em Pernambuco datam da primeira metade do século XVI, sendo constante a sua presença nos séculos que se seguiram, conforme se depreende dos depoimentos de viajantes que aqui aportaram.
Vieira Fazenda, citado por Eneida, diz que as proibições ao costume do entrudo datam no brasil de 1604, sendo os alvarás repetidos em 1612, 1686,1691,1784,1818, seguindo-se de outras posturas que chegaram aos nossos dias, mas tudo em vão, para desespero das autoridades e gáudio dos partidários do mela-mela.
Henry Koster, viajante inglês que residiu em Pernambuco entre 1809 e 1820, descreve com detalhes o folguedo do entrudo na zona rural, no seu livro clássico Travels in Brazil (Londres, 1816), objeto de sucessivas edições em língua inglesa e traduzido para o português por Luís da Câmara Cascudo. Outro viajante a documentar com graça a brincadeira do entrudo foi o francês Louis-François de Tollenare, que residiu no Recife entre 1816 e 1817, tendo anotado em seu diário em 9 de março do último ano:
"O carnaval ou entrudo não admite outros folguedos, senão o de assaltos recíprocos com bolas de cera cheias d`água no rosto; é permitido retaliar; a guerra é assaz animada e presta-se a alguns tours de mains.
Como não se está vestido adequadamente aos perigos aos quais se expõe acaba-se por ficar despido.
A licença deste dias me deu acesso à casa de algumas vizinhas, da classe média, as quais até então lobrigara.
Foi-me permitido oferecer-lhes uma merenda na própria casa.
Mandei buscar doces, frutas e vinho na venda próxima.
Esta delicadeza não foi absolutamente considerada como indiscreta.
A mãe estava presente.
A conversação não era muito espirituosa; mas, alegre, um pouco livre e versou sempre sobre o amor e o casamento. Era aliás, pouco seguida e amiúde interrompida por garrafas d`água que nos despejavam pela cabeça, na camisa e, sinto um pouco de vergonha de dizê-lo, até nas calças. As senhoras vos seguram, vos debateis, e neste conflito, algumas vezes mais que bizarro, é difícil não esquecer um pouco que nos achamos em sociedade. Não desejaria ver, nem minha irmã nem minha esposa, no meio das recreações do entrudo.
O que se passa nas ruas entre os escravos e a baixa plebe ainda é mais violento: depois das laranjadas vêm as garrafadas, as imundícies e as cacetadas"
A brincadeira do entrudo veio a ser documentada por Jean Baptiste Debret, pintor e engenheiro francês chegado ao Brasil em 1818 com a Missão Artística Francesa e que aqui permaneceu por 15 anos, que além de descrever a festa e o modo de confeccionar as "limas de cheiro" dedica-lhe um dos seus documentários em cromolitografia: "Cenas de Carnaval".
O entrudo foi a grande constante no carnaval do Recife, chegando a sua prática até aos nossos dias com o chamado mela-mela, que teve o seu auge no tempo do corso de automóveis nas ruas centrais da cidade, nos anos sessenta e setenta deste século.

SUPLEMENTO CULTURAL
Diário Oficial. Estado de Pernambuco.
Ano X. Fevereiro de 1997


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