50 ANOS DEPOIS  
 
O melhor do grande cantor popular do Brasil  
 
No final da tarde do dia 27 de setembro de 1952, um sábado, as rádios de todo o Brasil começavam a noticiar um terrível acidente ocorrido na rodovia Presidente Dutra, sentido São Paulo-Rio, no município paulista de Pindamonhangaba. Um caminhão em alta velocidade batera de frente com um Buick verde, que imediatamente se incendiara. Nele, acabara de morrer, aos 54 anos, o maior cantor popular do País: Francisco Alves.  
 
Seguiram-se cenas de comoção popular. As rádios passaram a tocar incessantemente os discos do Rei da Voz, em emocionados tributos. O enterro de Francisco Alves, no Rio de Janeiro, movimentou multidão que apenas seria igualada quando da despedida a Carmem Miranda, três anos depois.  
 
Passado meio século da morte do cantor, a valorosa gravadora curitibana Revivendo lança a caixa Francisco Alves 50 Anos Depois, com quatro CDs. Ao todo são 92 registros - 23 por CD -, feitos por Chico Viola entre 1930 e 1952 para as gravadoras RCA Victor (hoje BMG), Odeon (hoje EMI) e Continental (hoje Warner). Muito apropriadamente, os CDs estão devididos em temas: Seresteiro, Sambista, Carnavalesco e Grandes Versões.  
 
O CD Seresteiro traz preciosidades como "A Mulher Que Ficou Na Taça` (do próprio cantor, em parceria com Orestes Barbosa), "A Voz do Violão" (uma das marcas registradas de Francisco Alves, feita com Horácio Campos), "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda" (valsa de Francisco Matoso e Lamartine Babo), "Boa-Noite Amor" (também de Francisco Matoso, com José Maria de Abreu) e "Malandrinha" (Freire Júnior).  
 
Em Sambista estão reunidas maravilhas como "Para Me Livrar do Mal" (Noel Rosa/ Ismael Silva), "Serra da Boa Esperança" (de Lamartine Babo, composição considerada por muitos como toada, mas que na verdade é um samba-canção), "Canta, Brasil!" (Alcyr Pires Vermelho/ David Nasser), "Caminhemos" (Herivelto Martins), "Quem Há De Dizer" (Lupicínio Rodrigues/Alcides Barbosa) e "Aquarella do Brasil" (com dois L mesmo, segundo o rótulo do disco original, que trazia também a classificação de `scena brasileira 1a e 2a parte`, por ser o samba tão grande que não cabia em um lado do disco de 78 rotações; esta é a gravação original do clássico de Ary Barroso, e traz a clássica introdução criada por Radamés Gnattali).  
 
Carnavalesco mostra que o cantor era folião da maior qualidade. Estão aqui marchinhas e sambas deliciosos, como "Dá Nela..." (Ary Barroso), "Formosa" (Nássara/J. Ruy), "É Bom Parar" (Rubens Soares), "Que Rei Sou Eu?" (Herivelto Martins/Waldemar Ressurreição), "Palhaço" (também de Herivelto Martins, com Benedito Lacerda), e "Confete" (Jota Júnior/ David Nasser).  
 
Grandes Versões revela uma prática bastante comum no mundo do disco durante as décadas de 30 e 40, que era a gravação de clássicos da música internacional com letras em português. Estão neste volume temas como "A Canção da Fonte" (letra de Lamartine Babo para o tema instrumental "The Fountain Waltz", de Max Steiner, autor de trilha de ...E o Vento Levou), "Valsa da Despedida" ("Farewell Waltz", do filme A Ponte de Waterloo, autoria de Robert Burns, versão de João de Barro e Alberto Ribeiro), "Perfídia" (bolero de Alberto Dominguez, letra em português de Lamartine Babo), "Beija-me Muito" (o clássico "Besame Mucho", de Consuelo Velasquez, em versão de David Nasser), "Amor é Sempre Amor" ("As Time Goes By", de Herman Hupfeld, do filme Casablanca, versão de Jair Amorim) e "Maria Elena" (de Lorenzo Barcelata e letra em português do nosso maior versionista, Haroldo Barbosa).  
 
Os CDs trazem encarte com dados biográficos de Francisco Alves, informações técnicas sobre as gravações e as letras de todas as canções. Um panorama abrangente da importância do insuperável Chico Viola, o Rei da Voz, para a história da verdadeira Música Popular Brasileira. Um dos melhores lançamentos do ano.